quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Então eu transbordei

A saudade invadia meu ser.
Fechei os olhos e decidi partir.
Me dirigi ao mesmo refúgio de sempre.
Comecei a caminhar e resolvi tirar os sapatos.
Era necessário andar descalça.
Eu precisava sentir a textura da areia de encontro com minha pele.
Pronto, já estava próxima de casa.

Toda aquela confusão mental se transformaria em calmaria.
O vento fazia a roupa leve desenhar meu corpo.
E aos poucos eu ia entrando em contato com a areia gelada, molhada.
Até sentir aquela água vindo de encontro aos meus pés.

Pronto, nesse momento as lágrimas já escorriam do meu rosto.
Não conseguia discernir se era desespero ou gratidão.
As lágrimas se transformaram em soluços.
Não era preciso me conter. Eu estava em casa.
Então eu transbordei.
Ajoelhei no chão e continuava sentindo a água indo e vindo.
E nisso comecei a me sentir acolhida.
Como se alguém tivesse me pego no colo e abraçado forte.

Não havia ninguém ao redor.
Era noite e como sempre a luz da lua me iluminava.
Mas a sensação de colo ainda era forte.

Com o tempo os soluços iam reduzindo e o coração ia acalmando.
Aquela sensação de sufoco ia sendo levada do meu ser.
Como se a água que me banhava fosse limpando e levando cada agonia, cada nó.

Me levantei e procurei seguir mais a frente.
Ir mais fundo.
Existia uma voz que me chamava e eu só ia.

A água que antes cobria meus pés ia subindo pouco a pouco.
Eu mergulhei.
Quando submergi senti uma leveza que não sentia há muito tempo.
Era como se eu me sentisse sem casca, sem nenhum tipo de miasma.
Era apenas eu.
Crua e quase nua.

Um corpo que antes pesava agora flutuava.
E acompanhava o ir e vir das águas.

Enfim, em casa.
Enfim...

(Juliana Sayão)